terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um pouco de História

O texto abaixo foi retirado do blog Alma Lavada, da jornalista Fernanda Dannermann (http://www.jblog.com.br/almalavada.php?itemid=23467 ), vale a leitura.
Bom proveito e uma boa semana para todos.


Um beijo para a Imperatriz Dona Leopoldina
06/09/2010 - 22:00 Enviado por: FDannemann

Passei o dia com a vassoura na mão, a pleno vapor na faxina: Juliene, minha ajudante nos assuntos domésticos, andou com problemas pessoais. Mas o que achei graça foi quando o rapaz que limpa os vidros de casa chegou e, ao me ver de faxineira, questionou, surpreso:

-- A senhora consegue?!

Foi tiro e queda: meu pensamento se deteve no “consegue” e acabei divagando sobre os “grandes” desafios da mulher. Para muitas, sei que é preferível pagar o Tom Cruise para a “missão impossível” de limpar a casa ou fazer o almoço.

Mas com a proximidade do 7 de setembro, uma coisa se juntou à outra e me lembrei de uma das minhas maiores heroínas, a Dona Leopoldina, que conseguiu a liberdade do Brasil mas, infelizmente, não foi valorizada dentro de casa. E, tempos depois, caiu no esquecimento do próprio povo que ajudou a emancipar.

Quase 200 anos a separam de suas iguais de hoje, e vejo que os maiores desafios da mulher pouco mudaram neste meio-tempo: reconhecimento e valorização.

Temos por “Rainha do Brasil” a dona Carlota Joaquina... a espanhola que odiava este país e que, ao voltar para a Europa, deixou para trás até os sapatos, porque “desta terra não queria nem a poeira”. Para mim, a verdadeira rainha do Brasil foi a Imperatriz Leopoldina, que saiu da Áustria para tornar-se brasileira de coração e fé.

Como é comum acontecer com esposas de homens importantes, Dona Leopoldina acabou relegada às sombras, ainda que tenha sido ela a verdadeira responsável pela Independência __quando, na condição de regente, assinou o decreto que separava o Brasil de Portugal e, então, avisou ao marido com uma carta.

Cinco dias depois da tal assinatura, Dom Pedro recebeu sua mensagem, às margens do Ipiranga e, diante disso, fazer o quê? Teve que proclamar.

Descrita como culta e ótima caçadora, Dona Leopoldina, pertencendo a uma das mais tradicionais dinastias européias, a Casa de Habsburgo, foi preparada para reinar: chegou a surpreender até mesmo o sogro, que, segundo consta, entre uma e outra coxa de galinha, reconheceu sua superioridade diante de Dom Pedro. Lamentavelmente não era feliz no casamento: o marido, assumido mal-educado, tinha um coração aventureiro e preferia um tipo bem diferente de mulher.

A figura quase mítica de Domitila de Castro __a Marquesa de Santos__ popularizada na novela por Maitê Proença, entrou para a história como “verdadeiro amor de Dom Pedro”, esgarçando ainda mais a imagem de Dona Leopoldina e colocando-a até como “empecilho” pelos mais românticos.

Como me espanta a invisibilidade de nossa Imperatriz! Eu mesma sou uma prova disso: cresci achando Dom Pedro o máximo, com a idéia da gloriosa cena do grito “Independência ou morte!” lançado ao Ipiranga pelo herói nacional... da mesma maneira, muitíssimas pessoas nem desconfiam que, por trás do herói, estava Dona Leopoldina.

Mergulhada na depressão, ela morreu cedo e grávida. A causa de sua morte segue envolta em divergências, mas é bem conhecida a versão de que teria sido provocada por uma surra de pontapés dada pelo marido intempestivo justamente por causa da amante, e na presença desta, inclusive. Qualquer que seja a verdade, o fato é que morreu amada pelo povo e humilhada dentro de casa.

Enquanto faço minha faxina, penso em quantas mulheres sofrem este mesmo destino: desvalorização, desrespeito, esquecimento... então me lembro que, em poucas semanas, duas mulheres receberão votos do povo para chefiar esta nação. E, ao que parece, uma delas será eleita. De onde estiver, Dona Leopoldina há de se sentir orgulhosa do país que ajudou a construir, ainda que quase ninguém se lembre mais dela.