segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Verdade.

A verdade talvez seja algo que as limitações da nossa experiência humana, individualmente, jamais nos permitam conhecer. Não somos oniscientes ou onipresentes. Saber a verdade não é possível sem a cooperação dos outros.
Individualmente, sabemos versões. Nunca a verdade. Quando compartilhamos versões, sabemos mais da verdade. Quanto mais sabemos sobre ela, mais completa e mais justa a nossa percepção.
Existe uma relação direta entre verdade e justiça. Justiça somente é possível se a verdade for conhecida. Conhecê-la, por outro lado, só é possível, na experiência humana, através do compartilhamento das versões individuais. A verdade é a versão compartilhada pela comunidade, construída a partir da troca de informações de lados e pessoas diferentes. Verdade, na experiência humana, é uma coleção de versões compartilhadas.
Comissões de verdade são o reconhecimento dessa realidade. Para conhecer a verdade, precisamos trabalhar juntos. Ouvir e sermos ouvidos. Contar nossas histórias e escutar as dos outros. Somente este trabalho conjunto permite construir, compartilhar e aceitar a verdade.
A verdade não vem fácil. Ela só vem se todos compartilharem suas versões individuais. Não basta acesso a documentos ou o testemunho de somente uma das partes. Todas as partes devem estar envolvidas. Todos os fatos e perspectivas devem ser conhecidos. Mas somente isto não basta. Todos precisam concordar em uma versão compartilhada dos fatos, razões e circunstâncias.
Nos países cujos habitantes foram vítimas de violência injustificada por parte do Estado, conhecer a verdade é não somente importante como vital para o futuro da nação. A verdade é um meio, não um fim. Ela abre o caminho para o mais importante dos processos de pacificação desses países: a reconciliação. Afinal de contas, mesmo depois de conhecer a verdade, todos precisam viver juntos e construir o futuro, no mesmo país.
A reconciliação ocorre quando todos rejeitam os atos de violência praticados. Quando aqueles que os praticaram, aceitam a responsabilidade sobre seus atos.
Com isso, as feridas podem ser fechadas, ainda que as cicatrizes permaneçam como uma eterna lembrança dos erros do passado. Somente neste ponto, a reconciliação da sociedade pode começar. A partir daí, a sociedade se conscientiza. Constrói empatia. Olha para o futuro. Evita repetir erros anteriores.
Comissões de verdade bem sucedidas têm os olhos voltados para o futuro, enquanto nos liberam do passado.

Elton Simoes mora no Canada há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FVG); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (Univesity of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca. Escreve aqui às segundas-feiras.

O texto acima foi tirado do Blog do Noblat, em 28/11/2011. Para acessar a págima original click no link abaixo:


Um abraço.