domingo, 2 de dezembro de 2012

Empresa não vota

Retirado do site do jornal O Estado de S.Paulo, publicado na coluna opinião em 02/12/2012. Para acessar a página original clique no link abaixo.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,empresa-nao-vota-,968081,0.htm


A presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lúcia, considera necessário que se proíbam as doações eleitorais feitas por empresas. A lógica é simples: "Pessoa jurídica não é cidadão e não vota. Não há por que empresa fazer financiamento de campanhas", disse a ministra ao Estado. Partidos políticos são entidades privadas de direito público, que precisam ser financiadas não pelo Estado ou por grandes corporações, mas pelo eleitor que os escolhe para representá-lo. As doações feitas por empresas têm pelo menos dois inconvenientes: elas não são transparentes e dão margem a supor que essas empresas, cujo objetivo é lucrar, terão algum tipo de benefício caso seus candidatos sejam eleitos.

Dos dez maiores doadores privados para a campanha de candidatos a prefeito e vereador na última eleição, seis eram empreiteiras. Boa parte dos recursos que essas empresas doaram foi entregue diretamente à direção dos partidos, que então fizeram o repasse aos candidatos sem identificar a origem, configurando a chamada "doação oculta". Nas contas de campanha, então, apareceram somente os recursos que foram encaminhados pelo partido aos candidatos, omitindo as pessoas jurídicas. Permitida pelas normais eleitorais, essa manobra faz constar das contas dos candidatos somente os recursos entregues pelo partido. Assim, embora o partido seja obrigado a divulgar de quais empresas recebeu doações, os verdadeiros doadores não ficam vinculados diretamente aos candidatos.
Na eleição em São Paulo, essa modalidade de contribuição chegou a 90% dos R$ 42 milhões arrecadados pelo PT e a 82% dos R$ 34 milhões obtidos pelo PSDB. Tais números indicam a dependência cada vez maior que as campanhas das grandes legendas desenvolveram em relação ao dinheiro desembolsado por empresas, cujo interesse no resultado da votação não tem nada de cívico. Disputar uma eleição, de fato, é caro; no entanto, isso não significa que se possa turvar o processo de arrecadação de recursos, dando margem à suspeita de que haverá traficância de interesses. Convém lembrar que a maior fonte de receita das empreiteiras que lideraram as doações nas campanhas municipais Brasil afora está justamente nos contratos com o setor público.
A legislação prevê ainda outras formas de financiamento de partidos. Uma delas é a propaganda eleitoral "gratuita", bancada com dinheiro público, por meio da compensação fiscal dada às emissoras de rádio e TV obrigadas a transmiti-la. Outra é o Fundo Partidário, formado com recursos públicos - principalmente dotações orçamentárias da União. Neste ano, foram liberados R$ 286,2 milhões, bolo que foi dividido entre todos os partidos, mesmo entre aqueles que acabaram de ser formados - muitos dos quais nanicos que, por força da lei, fazem jus a nacos desse fundo e de preciosos minutos na TV. Há casos, porém, em que os novos partidos já nascem com grande número de parlamentares, mas que, sem terem sido ainda "testados" nas urnas para que se saiba qual é seu real tamanho, recebem um grande volume de recursos. É o caso do PSD do prefeito Gilberto Kassab, que, com seus 49 deputados e 2 senadores cooptados de outros partidos, obteve R$ 7 milhões do Fundo Partidário. Para acabar com esse tipo de distorção, um projeto de lei em tramitação na Câmara suspende a participação desses novos partidos no Fundo Partidário e no rateio do tempo de TV até que enfrentem alguma eleição parlamentar. Como toda proposta de reforma político-partidária, essa iniciativa deverá enfrentar grande resistência no Congresso.
Diante de mecanismos de financiamento eleitoral tão viciados, o correto é incentivar as doações de pessoas físicas, modelo tido pelos especialistas como o mais adequado, mas que no Brasil ainda é insignificante. Além de consolidar a ligação entre o partido e seus eleitores, esse sistema facilita a fiscalização e impõe limites para a doação, evitando assim que grandes empresários façam doações milionárias como pessoas físicas. O problema é conseguir convencer os eleitores comuns de que seu dinheiro é necessário para ajudar a sanear um sistema político em franco descrédito como o nosso.

Voltando.

Desde agosto sem poder postar neste espaço, volto agora para matar as saudades desta opção pessoal.
Passadas as eleições municipais com suas poucas surpresas, seguindo pelo julgamento do mensalão com sua repercurssão positiva, apesar dos excessos da mídia que extrapola para faturar, vamos para uma fim ano um pouco diferente.
Entretanto, apesar destes avanços temos muito de lutar para melhorar. Temos de melhorar nossa educação, das crianças até os adultos, fazendo-a ser motivo de orgulho e desejo da sociedade; temos de aprimorar nossa convivência social para além da gentileza superficial do encontro no churrasco; temos de nos ver como parte de um grupo e agir com a responsabilidade que este protagonismo participativo nos pede; temos de buscar crescer e prosperar observando que fazer isto de forma predatória é um erro; temos de valorizar e respeitar uns aos outros como seres humanos que somos, respeitando as diferenças que existem e nos fazem melhor.
Resumindo: temos de sonhar com o impossível para tentarmos chegar ao possível.
Um abraço. 

domingo, 26 de agosto de 2012

Matando com eficácia

JOÃO UBALDO RIBEIRO
Publicado em O Estado de S.Paulo - 26/08/2012
A vida cada vez vale menos, como se vê a todo instante. No Brasil, não vale nada, ou quase nada. Vale em nossas leis, se bem que cada vez mais desdentadas e avacalhadas pelas chicanas processuais que propiciam, notadamente para os ricos. Na prática, o que vemos é gente agonizando abandonada nos hospitais públicos e mortes violentas por todos os lados. O jovem delinquente compra sua primeira pistola e, para experimentá-la, mata alguém na primeira oportunidade. Um homem, como aconteceu não faz muito em Brasília, mata a namorada e, no dia seguinte, comparece a uma delegacia, revela o crime, entrega o corpo da vítima e a arma, e é também solto na hora.
Matar, no Brasil, é muito mais banal do que qualquer um de nós gosta de admitir. É muito fácil também. Como têm podido observar os que leem jornais e assistem a noticiários, há cidades (basta procurar no Google com jeito) onde é fácil contratar um pistoleiro e mandar matar um desafeto, contando ainda com a conveniente circunstância de que a grande maioria dos homicídios não é esclarecida. Para os casos mais triviais, dizem que sai muito em conta, valendo de sobra uma herança em disputa ou até um mero desagravo. E tem o carro, o método mais fácil e seguro. Qualquer um pode tomar umas talagadas, pegar o carro e matar quem desejar. A relação custo-benefício é incalculavelmente a favor do assassino e a embriaguez, em certas subculturas nacionais, é até atenuante. Em suma, entre nós há pouca diferença entre matar um rato e uma pessoa. Para não falar em matar um bicho do mato, mesmo em caso de necessidade, porque o Ibama prende e o crime é inafiançável.
Mas, mesmo onde matar não é tão fácil e não há tamanha impunidade, eliminar gente continua uma atividade prioritária em boa parte do mundo e há quem faça disso o grande objetivo de sua existência. Um carro-bomba ou avião explodido ali, um massacre acolá, um genocídio alhures. Ninguém mais, com exceção dos atingidos, dá muita importância a notícias sobre esse tipo de ocorrência, é tudo estatística. Dezenas de mortos, centenas de feridos, centenas de mortos, milhares de feridos, acaba tudo misturado e esquecido.
Na verdade, matar o semelhante é tão importante para os humanos que sempre houve um próspero mercado para os fornecedores dos meios para a eliminação do outro. É interessante que, quando pensamos em marcianos de ficção científica antiga, achamos que esses marcianos, habitantes de um planeta apenas um pouco menor que o nosso, seriam um todo homogêneo e não, como nós, divididos ferozmente entre territórios e categorias as mais disparatadas e arbitrárias e indo às fuças uns dos outros o tempo todo. Quer dizer, achamos que o certo seria vivermos harmoniosamente, como seres do mesmo planeta, que morrem imediatamente, se não mantiverem contato direto com o que os circunda, a começar pelo ar e o alimento. Mas, apesar disso, matamos os semelhantes a torto e a direito e frequentemente consideramos nobres os motivos, mesmo que saibamos que essa nobreza está no olho de quem mata.
Mas, não sei por que, o que mais me intriga são os fabricantes da morte, agora mais vivamente, com as notícias de armas químicas e biológicas na Síria. Muitos venenos foram descobertos por acaso, assim como cepas virulentas de micro-organismos, mas há cientistas dedicados a criar os mais devastadores agentes de morticínio e sofrimento em massa. Dizem-nos que os mocinhos não estocam essas armas, só os bandidos - ao que manda a sensatez responder com um "morda aqui". Ninguém sabe que pestes e pragas diabólicas estão encapsuladas nos arsenais, ou quando algum desatinado fará uso delas.
Uma dessas doenças, já se divulgou faz tempo, é o antraz, também conhecido como carbúnculo, tão brabo que, no Nordeste, virou palavrão, através da corruptela "cabrunco". Normalmente só contraído por contato direto com material infectado, em sua forma "evoluída" deve pegar até pelo pensamento. A intenção é matar, mas já li que não se despreza o importante "efeito moral", obtido pela reação dos contaminados, ao perceberem, a si mesmos e aos circundantes, cobertos de pústulas e chagas repulsivas.
Está bem, não se deve julgar o próximo, mas o que é que faz o sujeito trabalhar numa coisa dessas e chegar intencionalmente a esses resultados? Dizer que a ciência, como a justiça, é cega e, portanto, se desenvolver uma forma altamente letal de uma doença está nos limites da ciência, ela deve ser desenvolvida é a mesma coisa que saber que está nos limites da ciência projetar uma única bomba que destruirá a Terra e fazer essa bomba. Não era necessário o antraz de laboratório. Equipes de cientistas trabalharam sabe-se lá quanto tempo para desenvolvê-lo, sabendo perfeitamente para que serviria e como poderia ser empregado. Será que nem um só desses caras se detém para pensar na monstruosidade que está ajudando a gerar? Como será que eles fazem os cálculos para estimar o número de infectados por hora, o número de óbitos por dia e assim por diante, sem imaginar o sofrimento causado?
Estive assistindo a um vídeo interessante, na internet. Um químico fazia uma palestra sobre uma bela rãzinha alaranjada, nativa da América Central, do tamanho da unha do polegar. A rãzinha é predada por pássaros e precisa de uma defesa eficaz. Aí produz na pele um dos venenos mais potentes já descobertos, que atua em doses infinitesimais. Não dá nem para abrir o bico direito. Com o sistema nervoso bloqueado em milissegundos, o pássaro cai duro para trás e a rãzinha salta fora. Ainda não sintetizaram o veneno, mas é inevitável pensar que alguém pode estar se dedicando a isso, para legar ao futuro a possibilidade de, com uma ampolazinha jogada do alto, extinguir toda a vida animal numa área qualquer. Pode, não; deve estar, nossa espécie não falha.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Gays e a absurda violência.

A violência contra qualquer ser humano é absurda por si só, embora não guarde qualquer ilusão sobre a bestialidade que pode aflorar de dentro de nós.
Mas ao ler os relatos de dois jovens irmãos gêmeos que foram espancados, tendo um morrido, por estarem andando abraçados em uma rua de Camaçari na Bahia e sobre o assassinato com requintes de crueldade de um jovem gay assumido, de 15 anos, na cidade de Paraíba do Sul no Rio de Janeiro, fico estupefato com tamanha selvageria e desamor. 
Pode-se até tentar entender que uma pessoa não compreenda a condição de homossexualidade de alguém, o que convenhamos também é complicado, mas não é de forma alguma concebível que isto seja motivo para qualquer atitude violenta, seja de que intensidade for.
As pessoas que praticaram estes atos devem ser seriamente punidas, mas também seriamente tratadas por estarem certamente muito doentes, sem qualquer padrão lógico e emocional equilibrado.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

VoeGol.

Voando Gol para Salvador, no dia 19/06/2012,  fui surpreendido com a venda de refeição a bordo.
A empresa deixou de fornecer lanche a  seus passageiros e passou a comercializa-los, a altos preços, em seus voos com mais de 1 hora se bem entendi o que foi anunciado a bordo.
Esta empresa, surgida  à 10 anos para ser uma novidade com bons serviços e baixo preço, transformou-se em uma empresa cara e com serviços ruins. A venda a bordo é mais um passo no sentido de arrecadar sem bem tratar.
Os produtos são anunciados em cardápios distribuídos a bordo, com preços bem superiores aos praticados aqui "em baixo" e de forma constrangedora, já que ninguém pode pedir para sair, mesmo nas conecções, para ir fazer uma refeição, sendo, portanto, uma quase coação.  
Junte-se a isto a impressão de que os tripulantes estão cada vez mais tensos e insatisfeitos, pois raramente sorriem, numa permanente formalidade.
A Gol é uma triste novidade.
Um abraço.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Erundina: PARABÉNS e OBRIGADO

Cara senhora Erundina, obrigado por injetar um pouco de decência nesta pobre discussão cotidiana sobre como fazer política no Brasil.
Sua recusa em compartilhar com o senhor Maluf, qualquer tipo de espaço, nos acalenta e nos dá uma pequena ponta de esperança para seguir em frente.
Um abraço.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Maluf apoia Haddad e nega ter indicado secretário de ministério

O título acima foi copiado da manchete do site de um jornal carioca.
Na reportagem aparece uma foto do presidente Lula apertando a mão da sr. Maluf.
Já vivi bem e sei que as coisas mudam, mas agora foi demais.
Presidente Lula, sua biografia não precisava disto, a história das pessoas que lutaram por algo melhor não merecia isto; este País, não será jamais, melhor assim.
Esta manchete é o simbolo do pragmático demais, do vulgar demais, do sem vergonha demais, do vil demais, do humilhante demais.
Sr Haddad e sr. Lula, sua atitude é desonesta e detestável.
Torço firmemente para as urnas dizerem isto com uma clareza acachapante.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Governador Cabral e Vaccarezza. Na muda 2


Celular do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) com mensagem para o governador do Rio, Sérgio CabralFoto: Reprodução
A bela foto ao lado, mostra como realmente o governador Cabral esta na muda:encolhido e quieto. Mas a "muda" do governador é apenas para o público que o elegeu, pois como se vê, nos bastidores ele continua ativo e falante.
Ditado antigo: por fora bela viola, por dentro, pão bolorento.
Que vexame governador!! Que vexame PT e seu represante Vaccarezza!
Os dois, PT e o governador Cabral sempre se anunciaram como o novo, a alternativa consistente para um novo Brasil onde a gestão pública é um compromisso inegociável, mas como se vê agora, estão juntos para provavelmente encobrir a descoberta de uma aproximação leviana entre o público e o privado.
O pior disto, é que projetos importantes, como as UPPs, UPAs e outros, que precisam de apoio irrestrito e irretocável dos seus mentores e patrocinadores, passam a ser vistos com desconfiança e de alguma forma ficam fragilizados, pois a dúvida sobre a lisura do criador pode contaminar em algum momento, a criatura.
Um abraço.   

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Falta Autoridade

Duas coisas,eu posso dizer do episódio(Cabral/Cavendish/Cachoeira).
A primeira é que seu estrago poderá repercutir negativamente na campanha da reeleição de Eduardo Paes.
Segundo, o que não minimiza a gravidade do caso, é que somos obrigados a ser pautados exatamente por quem sempre foi nossa melhor pauta nesses temas.
Como na máxima de Ulysses Guimarães, Garotinho suja a denúncia que faz porque, no seu caso, não busca culpados, mas cúmplices.


Retirado do Blog do Moreno, em:
http://oglobo.globo.com/pais/moreno/posts/2012/05/05/coluna-nhenhenhem-de-hoje 443575.asp

Tinha um Cabral no meio do caminho que leva à CPI do Cachoeira.

Carlos Brickmann
  
Postado originalmente em:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/05/06/tinha-um-cabral-no-meio-do-caminho-que-leva-cpi-do-cachoeira-443680.asp 

Estava tudo arrumado: a investigação sobre Carlinhos Cachoeira já foi feita pela Polícia Federal e a CPI ficaria fora dela. O trabalho da CPI seria derrubar o senador Demóstenes Torres, ex-DEM, e o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, que o ex-presidente Lula considera inimigos. Talvez fosse atingido o governador petista de Brasília, Agnelo Queiroz, mas quem se importa com ele?
Só que, como afirmava o deputado Ulysses Guimarães, o sábio que comandava um PMDB tão diferente do de hoje, CPI se sabe como começa, não como termina. E nesta, como não disse o poeta, tinha um Cabral no meio do caminho.
As fotos de Sérgio Cabral, em cenas de ostensivo luxo e mau-gosto explícito, exigem respostas a várias perguntas. A primeira, quem pagou a conta:
o governador, e com que dinheiro?
Ou seus convidados, fornecedores do Governo?
O concessionário do Poupatempo no Rio, Georges Sedala, um dos que aparecem dançando de guardanapo na cabeça?
Fernando Cavendish, dono da Delta, empresa que surge em dez de cada dez denúncias neste caso?
Os secretários de Governo que acompanhavam o chefe no que chamaram de momentos de descontração?
Há outras perguntas, claro. Que é que comemoravam? Será verdadeira a notícia de que fecharam o luxuoso restaurante do Ritz, em Monte Carlo, pagando US$ 400 mil, para que ninguém os incomodasse?
Terá isso ocorrido outras vezes - por exemplo, para comemorar a eleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes?
O risco dos personagens não é a prisão, que aqui é Brasil. É cair no ridículo.
Dentro de pouco mais de uma semana, dia 15, Carlinhos Cachoeira deve depor na CPI.
Dependendo das conversas, gato pode rugir e leão pode miar.
O advogado de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos, que foi ministro da Justiça do presidente Lula, marcou com seu cliente uma visita para amanhã.
Se tudo der certo, Cachoeira vai ronronar.
Se der mais certo ainda, só vai rugir com certos nomes.

Frase notável: "Quem no Congresso disser que nunca viu Cachoeira ou fala cascata ou tem catarata".

domingo, 6 de maio de 2012

Cabral quis ser chique, foi brega.


Por Elio Gaspari
Vergonha, essa é a sensação que resulta dos vídeos das vilegiaturas parisienses do governador Sérgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns secretários e pelo empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta.
Uma cena pode ser vista com o olhar do casal que está numa mesa ao fundo do salão do restaurante Louis XV, no Hotel de France, em Mônaco. (“Este é o melhor Alain Ducasse do mundo”, diz Cabral, referindo-se ao chef.)
Ela é uma senhora loura e veste um pretinho básico. A certa altura, ouve uma cantoria na mesa redonda onde há oito pessoas. Admita-se que ela entende português. O grupo comemora o aniversário de Adriana Ancelmo, a mulher de Cabral, e festeja o próximo casamento de Fernando Cavendish.
Até aí, tudo bem, é vulgar puxar celulares no Louis XV e chega a ser brega filmar a cena, mas, afinal, é noite de festa. A certa altura, marcado o dia do casamento, Cabral decide dirigir a cena:
“Então, dá um beijo na boca, vocês dois.”
Cavendish vai para seu momento Clark Gable e o governador diz à mulher do empreiteiro:
“Abre essa boca aí.”
As cenas foram filmadas por dois celulares. Um deles era o do dono da Delta.
Na mesma viagem, Cavendish, o empresário George Sadala, seu vizinho de Avenida Vieira Souto e concessionário do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretários de Saúde e de Governo do Rio (Sérgio Cortes e Wilson Carlos), estão no restaurante do Hotel Ritz de Paris.
Até aí, tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas expressões, estão embriagados. Fora do expediente, nada demais. Inexplicáveis, nessa cena, são os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a Dubai quem tiver uma explicação para o adereço.
O álbum fecha com a fotografia de quatro senhoras gargalhantes, no meio da rua, mostrando as solas de seus stilettos (duas vermelhas). Exibem como troféus os calçados de Christian Louboutin.

Nos pés de Victoria Beckham (38 anos) ou de Lady Gaga (26 anos), eles têm a sua graça, mas tornaram-se adereços que, por manjados, tangenciam a vulgaridade. Não é à toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do cabaret Crazy Horse.
As cenas constrangem quem as vê pela breguice. Até hoje o ex-presidente José Sarney é obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se locomoveu numa de suas viagens a Nova York. (Não foi ele quem mandou alugar o modelo.)
A doutora Dilma explicou que não foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No caso das vilegiaturas de Cabral, a breguice não partiu dos organizadores da viagem, mas da conduta dele, de seus secretários e do amigo empreiteiro.
Esse tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas faz parte do primarismo dos novíssimos ricos do Brasil emergente.
Noutra ponta dessa classe está o senador Demóstenes Torres, comprando cinco garrafas de vinho Cheval Blanc, safra de 1947: “Mete o pau aí. Para muitos é o melhor vinho do mundo, de todos os tempos (...) Passa o cartão do nosso amigo aí, depois a gente vê.”
O amigo do cartão era Carlinhos Cachoeira, que, por sua vez, também era amigo da empreiteira Delta, de Cavendish.

sábado, 5 de maio de 2012

Na muda.

O governador Cabral tá igual a passarinho na muda: encolhido e quieto.
Mas segundo os jornais, não é por vergonha de ter sido pego em "intimidades empresariais" com seus secretários, é por estratégia, para que o tempo esfrie os debates e depois ele possa voltar como se nada tivesse acontecido. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Quem cuida do cuidador?


As primeiras e mais ancestrais cuidadoras são nossas mães e avós que desde o início da humanidade cuidaram de sua prole. Caso contrário, não estaríamos aqui escrevendo sobre o cuidado.
Neste contexto queremos mencionar duas figuras, verdadeiros arquétipos do cuidado: o médico suíço Albert Schweitzer (1875-1965) e a enfermeira inglesa Florence Nightingale (1820-1910). 
Albert Schweitzer era exímio exegeta bíblico e um dos maiores concertistas de Bach de seu tempo. Aos trinta anos já com fama em toda a Europa, largou tudo, estudou medicina para, no espírito das bem aventuranças de Jesus, cuidar dos mais pobres dos pobres (os hansenianos) em Lambaréné, no Gabão. 
Numa de suas cartas confessa explicitamente: ”o que precisamos não é de missionários que queiram converter os africanos, mas de pessoas dispostas a fazer aos pobres o que deve ser feito, se é que o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuem algum valor. Minha vida não está nem na arte nem na ciência mas em ser um simples ser humano que no espírito de Jesus faz algo por insignificante que seja”. Foi dos primeiros a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
Por cerca de quarenta anos viveu e trabalhou num hospital por ele construído com o dinheiro de tournées de concertos de Bach. Nas poucas horas vagas, teve tempo para escrever vasta obra centrada na ética do cuidado e do respeito pela vida.
Formulou assim seu lema: “a ética é a responsabilidade ilimitada por tudo o que existe e vive”.
Numa outra obra assevera: ”a ideia chave do bem consiste em conservar a vida, desenvolvê-la e elevá-la ao mais alto valor; o mal consiste em destruir a vida, prejudicá-la e impedir que se desenvolva plenamente; este é o princípio necessário, universal e absoluto da ética”.
Outro arquétipo do cuidado foi a enfermeira inglesa Florence Nightingale. Humanista e profundamente religiosa, decidiu melhorar os padrões da enfermagem em seu país.
Em 1854, com outras 28 companheiras, Florence se deslocou para um campo de guerra na Turquia, durante a Guerra da Criméia, onde se empregavam bombas de fragmentação que produziam muitos feridos.
Aplicando no hospital militar a prática do rigoroso cuidado, em seis meses reduziu de 42% para 2% o número de mortos. Esse sucesso granjeou-lhe notoriedade universal.
De volta a seu país e depois nos EUA, criou uma rede hospitalar que aplicava o cuidado como eixo norteador da enfermagem e como sua ética natural. Florence Nightingale continua a ser uma referência inspiradora.
O operador da saúde é por essência um curador. Cuida dos outros como missão e como opção de vida. Mas quem cuida do cuidador, título de um belo livro do médico Dr. Eugênio Paes Campos (Vozes 2005)?
Partimos do fato de que o ser humano é, por sua natureza e essência, um ser de cuidado. Sente a predisposição de cuidar e a necessidade de ser ele também cuidado. Cuidar e ser cuidado são existenciais (estruturas permanentes) e indissociáveis.
É notório que o cuidar é muito exigente e pode levar o cuidador ao estresse. Especialmente se o cuidado constitui, como deve ser, não um ato esporádico mas uma atitude permanente e consciente.
Somos limitados, sujeitos ao cansaço e à vivência de pequenos fracassos e decepções.
Sentimo-nos sós. Precisamos ser cuidados, caso contrário, nossa vontade de cuidar se enfraquece. Que fazer então?
Logicamente, cada pessoa precisa enfrentar com sentido de resiliência (saber dar a volta por cima) esta situação dolorosa. Mas esse esforço não substitui o desejo de ser cuidado. É então que a comunidade do cuidado, os demais operadores de saúde, médicos e o corpo de enfermagem devem entrar em ação.
O enfermeiro ou a enfermeira, o médico e a médica sentem necessidade de serem também cuidados. Precisam se sentir acolhidos e revitalizados, exatamente como as mães fazem com seus filhos e filhas.
Outras vezes sentem necessidade do cuidado como suporte, sustentação e proteção, coisa que o pai proporciona a seus filhos e filhas.
Cria-se então o que o pediatra R. Winnicott chamava de “holding”, quer dizer, aquele conjunto de cuidados e fatores de animação que reforçam o estímulo para continuarem no cuidado para com pacientes.
Quando este espírito de cuidado reina, surgem relações horizontais de confiança e de mútua cooperação, se superam os constrangimentos, nascidos da necessidade de ser cuidado.
Feliz é o hospital e mais felizes são ainda aqueles pacientes que podem contar com um grupo de cuidadores. Já não haverá “prescrevedores” de receitas e aplicadores de fórmulas mas “cuidadores” de vidas enfermas que buscam saúde. A boa energia que se irradia do cuidado corrobora na cura.


Leonardo Boff é teólogo e filósofo
 
Original publicado em 
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=442596&ch=n

domingo, 29 de abril de 2012

Recordar é viver: Código Cabral (1) - 4/7/2011

“Sempre procurei separar minha vida privada da minha vida pública”. (Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro)
Dono de um patrimônio avaliado em 30 bilhões de dólares, apontado pela Revista Forbes como a 8ª pessoa mais rica do mundo, o empresário Eike Batista pode emprestar a quem quiser seu jato Legacy de 26 milhões de dólares. Mas nem todo mundo pode aceitar o empréstimo.
Como homem público, o governador Sérgio Cabral, por exemplo, não poderia.
Sabia-se que em outubro de 2009, Cabral voou no jato de Eike para assistir em Copenhague ao anúncio da escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.
Soube-se que ele voou no mesmo jato para passar recente fim de semana em Porto Seguro, que culminou com a queda de um helicóptero e a morte de sete pessoas.
Agora se ficará sabendo que pelo menos uma outra vez Cabral voou à custa de Eike. No mesmo Legacy. E que não foi um vôo de ida e volta a algum lugar. Foi um vôo cheio de idas e voltas. Um vôo excepcional. Que mobilizou o jato de Eike durante uma semana. E que provocou uma canseira braba nos que o pilotaram.
Dia 3 de dezembro do ano passado. Estava de malas prontas para voar em avião comercial com destino a Bahamas, paradisíaco arquipélago do Caribe, uma parte da família do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções, e de contratos com o governo do Rio no valor de R$ 1 bilhão.
Jordana, mulher de Fernando, um filho de três anos de idade e a babá dele acabaram convidadas a acompanhar Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, seus dois filhos Thiago e Mateus, e a duas outras babás que também viajariam a Bahamas. No jato de Eike, o grupo decolou do aeroporto Santos Dumont por volta das 20h.
O vôo de Fernando correu sem incidentes. Com ele seguiram sua mãe, a filha mais velha, o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, e mais a sogra de Côrtes, a mulher, duas filhas e duas babás.
O vôo de Jordana e de Adriana Ancelmo posou em Manaus para que os passageiros apresentassem os documentos de saída do Brasil. E aí...
Aí deu rolo. O filho de Jordana estava sem o documento assinado pelo pai autorizando-o a deixar o país. Agentes da Polícia Federal foram inflexíveis no cumprimento da norma. Não cederam sequer diante de um pedido feito por Cabral, que telefonou para eles. Como o impasse foi resolvido? Muito simples.
Adriana Ancelmo, os dois filhos e suas babás retomaram o vôo para a Bahamas. Jordana, o filho e a babá ficaram em Manaus à espera do documento que lhes permitiria continuar a viagem. O documento chegou a Manaus dois dias depois.
O jato de Eike, que esperava o desfecho do caso na Bahamas, voltou a Manaus.
Dali, com os passageiros remanescentes, novamente voou para Bahamas. Faltava alguém para completar a lista daqueles que haviam combinado passar uma semana de férias num dos mais luxuosos complexos turísticos da Bahamas. Quem? Ora, Cabral! E lá se foi o jato de Eike buscá-lo no Rio, juntamente com três agentes de segurança.
E outra vez o jato decolou para Bahamas, onde Cabral pôde encontrar mulher, filhos, babás, Cavendisk, Cortês, respectivos familiares e... babás, é claro.
Os Cabral e Cavendisk ocuparam duas espaçosas suítes, uma em frente da outra. Desfrutaram de dias ensolarados, de mar de água tépida e de muito sossego.
Depois de sete dias, a contar da chegada a Bahamas pela primeira vez do jato de Eike, teve início à viagem de volta. Os que haviam ido em vôo comercial desembarcaram no Rio em vôo comercial. Os que voaram nas asas de Eike retornaram nas asas dele – salvo os agentes de segurança de Cabral, passageiros de outro vôo.
Custa crer que na semana passada Cabral tenha dito que encomendou um código de conduta para ser respeitado por ele nas suas relações com empresários. Um código capaz de orientá-lo na hora de separar o público do privado.
Seria preciso um código para vetar por imoral a alegre vilegiatura de Cabral na Bahamas? Por suposto, não!
Cabral, o Pedro, descobriu o Brasil. Que agora descobre Cabral, o Sérgio.

O texto acima foi retirado do Blog do Noblat, postado em 29/04/2012. Para ler o original click no link abaixo:

Nota do Conversando: custa crer que foi preciso uma cachoeira de denúncias para os jornalistas cariocas começarem a enxergar o Governador, seus secretários e a acharem pouco conveniente esta relação estado-negócios tão próxima.
Afinal, depois de 6 anos de elogios, o que mudou?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Poesia: Ferreira Gullar

Cantiga para não morrer


Quando você for se embora,

moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa

me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa

por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa

por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

OPINIÃO - El suicidio económico de Europa

RETIRADO DO SITE DO JORNAL EL PAIS, 22/04/2012. PARA VER O ORIGINAL VÁ PARA:

La semana pasada, The New York Times informaba de un fenómeno que parece extenderse cada vez más en Europa: los suicidios “por la crisis económica” de gente que se quita la vida desesperada por el desempleo y las quiebras de las empresas. Era una historia desgarradora, pero estoy seguro de que yo no era el único lector, especialmente entre los economistas, que se preguntaba si la historia principal no será tanto la de las personas como la de la aparente determinación de los líderes europeos de cometer un suicidio económico para el continente en su conjunto.
Hace solo unos meses albergaba algo de esperanza respecto a Europa. Es posible que recuerden que a finales del pasado otoño Europa parecía estar al borde de la crisis financiera, pero el Banco Central Europeo, homólogo europeo de la Reserva Federal estadounidense, acudió al rescate. Ofreció a los bancos europeos unas líneas de crédito indefinidas siempre que presentaran bonos de los Gobiernos europeos como garantía, lo que ayudó directamente a los bancos e indirectamente a los Gobiernos, y puso fin al pánico.
La cuestión por aquel entonces era saber si esta acción valiente y eficaz sería el inicio de un replanteamiento más amplio, y si los líderes europeos usarían el oxígeno que el banco había insuflado para reconsiderar las políticas que llevaron las cosas a un punto crítico en primer lugar.
Pero no lo hicieron. En vez de eso, persistieron en sus políticas y en sus ideas que no dieron resultados. Y cada vez resulta más difícil creer que algo les hará rectificar el rumbo.
Ya no se puede hablar de recesión; España se encuentra en una depresión en toda regla
Piensen en la situación en España, que actualmente es el epicentro de la crisis. Ya no se puede hablar de recesión; España se encuentra en una depresión en toda regla, con una tasa de desempleo total del 23,6%, comparable a la de EE UU en el peor momento de la Gran Depresión, y con una tasa de paro juvenil de más del 50%. Esto no puede seguir así, y el hecho de haber caído en la cuenta de ello es lo que está incrementando cada vez más los costes de financiación españoles.
En cierta forma, no importa realmente cómo ha llegado España a este punto, pero por si sirve de algo, la historia española no se parece en nada a las historias moralistas tan populares entre las autoridades europeas, especialmente en Alemania. España no era derrochadora desde un punto de vista fiscal; en los albores de la crisis tenía una deuda baja y superávit presupuestario. Desgraciadamente, también tenía una enorme burbuja inmobiliaria, que fue posible en gran medida gracias a los grandes préstamos de los bancos alemanes a sus homólogos españoles. Cuando la burbuja estalló, la economía española fue abandonada a su suerte. Los problemas fiscales españoles son una consecuencia de su depresión, no su causa.
Sin embargo, la receta que procede de Berlín y de Fráncfort es, lo han adivinado, una austeridad fiscal aún mayor.
Esto es, hablando sin rodeos, descabellado. Europa ha tenido varios años de experiencia con programas de austeridad rigurosos, y los resultados son exactamente lo que los estudiantes de historia les dirían que pasaría: semejantes programas sumen a las economías deprimidas en una depresión aún más profunda. Y como los inversores miran el estado de la economía de un país a la hora de valorar su capacidad de pagar la deuda, los programas de austeridad ni siquiera han funcionado como forma de reducir los costes de financiación.
Lo que es realmente inconcebible es mantener el rumbo actual e imponer una austeridad cada vez más rigurosa
¿Cuál es la alternativa? Bien, en la década de 1930 —una época cuyos detalles la Europa moderna está empezando a reproducir de forma cada vez más fiel— el requisito fundamental para la recuperación fue una salida del patrón oro. La medida equivalente ahora sería una salida del euro, y el restablecimiento de las monedas nacionales. Pueden decir que esto es inconcebible, y que sin duda alguna sería enormemente perjudicial tanto económica como políticamente. Pero lo que es realmente inconcebible es mantener el rumbo actual e imponer una austeridad cada vez más rigurosa a países que ya están sufriendo un desempleo de la época de la Depresión.
Por eso, si los líderes europeos quisieran realmente salvar al euro estarían buscando un rumbo alternativo. Y la forma de dicha alternativa es en realidad bastante clara. Europa necesita más políticas monetarias expansionistas, en forma de buena disposición —una buena disposición anunciada— por parte del Banco Central Europeo para aceptar una inflación algo más elevada; necesita más políticas fiscales expansionistas, en forma de presupuestos en Alemania que contrarresten la austeridad en España y en otros países en apuros de la periferia europea, en vez de reforzarla. Incluso con esas políticas, los países periféricos se enfrentarían a años de tiempos difíciles, pero al menos existiría alguna esperanza de recuperación.
Sin embargo, lo que estamos viendo en realidad es una falta de flexibilidad absoluta. En marzo, los líderes europeos firmaron un pacto fiscal que establece de hecho la austeridad fiscal como respuesta ante todos y cada uno de los problemas. Mientras tanto, los principales directivos del banco central insisten en recalcar la voluntad del banco de aumentar los tipos a la más mínima señal de una inflación más elevada.
Por eso resulta difícil evitar una sensación de desesperación. En vez de admitir que han estado equivocados, los líderes europeos parecen decididos a tirar su economía —y su sociedad— por un precipicio. Y el mundo entero pagará por ello.

Paul Krugman, premio Nobel de Economía 2008, es catedrático de la Universidad de Princeton.
Traducción de News Clips.
© 2012 New York Times News Service

sábado, 21 de abril de 2012

Nossos Holocaustos

Cristovam Buarque
Artigo para o jornal O Globo – publicado em 21/04/2012

Nesta semana, o Brasil comemorou o Dia do Índio. Para a maioria da população, este é um dia de folclore. Mas, na verdade, é um momento de reflexão sobre o holocausto que cometemos contra as nações indígenas. A história do Brasil é, em parte, a história de um longo holocausto que ainda não terminou.
De 4 a 6 milhões de indígenas que habitavam o Brasil e viviam em harmonia com a natureza, hoje apenas 817 mil sobrevivem (Censo de 2010). Eles foram sendo mortos pelo excesso de trabalho, pela fome e mesmo pela caça que os tratava como animais. E hoje a maior parte vive na mais absoluta miséria, sem terras e sem uma política pública eficiente por parte dos governos.
Pode ter sido um holocausto mais lento, não menos doloroso e imoral do que a brutalidade cometida pelos nazistas contra o povo judeu, ao considerarmos toda a dimensão da tragédia indígena. E no nosso caso, o holocausto continua sendo feito por represas, estradas e garimpos, que matam índios, provocando alcoolismo e suicídio, e destruição de seus habitats e etnias.
Mas esse não foi nosso único holocausto. Ao longo de 300 anos, desde quando chegaram aqui os primeiros escravos africanos, até 1888, quando foi proclamada a Abolição da Escravatura, pelo menos quatro milhões de seres humanos foram arrancados da África e trazidos para o Brasil, onde foram sacrificados no trabalho forçado, tratados como mercadoria, sem direito aos filhos, tratados como mobiliários ou ferramentas.
Considerando também aqueles que aqui nasceram e continuaram escravos, podemos estimar em dezenas de milhões os negros tratados como animais na vida, vítimas de um maldito holocausto brasileiro. Mas, se há 124 anos este holocausto terminou, a face mais brutal da escravidão explícita dura até hoje. Seus descendentes enfrentam a exclusão social que já não pode ser chamada de holocausto, mas não deixa de ser um crime social, em um país onde as boas escolas são dos brancos e as prisões para os negros.
Porém, este não é o último dos nossos holocaustos. A cada ano, mais de 42 mil brasileiros morrem por acidentes de trânsito e outros 50 mil são assassinados. Embora não se possa ter um responsável direto como foram os nazistas, os exploradores de índios e os escravocratas dos negros podem ser responsabilizados pelo sistema social e econômico que provoca esse holocausto. O responsável maior é o sistema consumista, desigual, com prioridades imorais, com pessoas por trás tomando decisões, como havia na Alemanha nazista.
Todos os holocaustos da história, inclusive aquele dos nazistas contra os judeus, são tolerados pelas leis vigentes, e só viram crimes contra a humanidade quando deixam de ser contemporâneos e passam a serem fatos analisados pela história.
Por isso, o Brasil não vê como um holocausto a condenação de 250 mil meninas que vivem na prostituição, sacrificando não apenas a dignidade e o futuro delas, mas também a vida. Nem considera holocausto o crime contra os milhões de meninos e meninas excluídos de uma educação decente com qualidade, condenados a sobreviverem na miséria e na exclusão por falta dos instrumentos necessários para entenderem e enfrentarem o mundo moderno. A cada minuto de ano letivo, 60 crianças abandonam a escola apenas por serem pobres, são descartadas à margem da vida digna, como os escravos mortos eram jogados para fora dos navios negreiros e os judeus eram jogados nas câmaras de gás.
Por sua ausência ou por sua ineficiência, a Escola brasileira é um crematório de cérebros. Funciona como um forno, cremando perseguidos e excluídos. Quem observa este maldito fato na perspectiva de hoje, o vê apenas como uma fatalidade, talvez lamentável, mas sem a percepção do holocausto contra as crianças e o futuro delas. Portugueses e brasileiros da colonização não viam o holocausto que era feito ao lado deles contra os índios, ou aquele feito contra os escravos. Para eles, índios e escravos não tinham alma, para os brasileiros de hoje, crianças pobres não têm direito à escola igual àquelas pagas pelos pais que podem pagar.
O Dia do Índio pode ser um dia de simples lembrança de que temos ainda sobreviventes indígenas, mas pode ser também um dia de memória dos holocaustos antigos e dos dias de hoje da sociedade brasileira, de cada hora e minuto nos tempos atuais: o Dia do Índio é o Dia dos Nossos Holocaustos.

*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Só feriado na Rio+20

Acabo de ler que o prefeito do Rio vai propor feriado e ponto facultativo nos dias 20, 21 e 22 de junho, devido a realização da Rio+20. Tal solicitação atende a um pedido do governo federal e visa minimizar os transtornos a população devido a presença de chefes de Estados e seus esquemas de segurança.
Ocorre que neste Estado em particular, já temos uma enorme quantidade de feriados, devidamente alongados com os pontos facultativos distribuídos pelos nossos governantes, sem que se avaliem as reais dimensões deste hábito carioca/brasileiro.
Vejamos: este já será um fim de semana prolongado, pois segunda é feriado de São Jorge, daqui a exata uma semana teremos o feriado do dia 1 de maio que será precedido, provavelmente, de outro ponto facultativo por cair numa terça feira, faz duas semanas tivemos o feriado da Semana Santa que durou quatro dias, já que na quinta, dia 5/04 foi ponto facultativo. E não estou contando o carnaval e os próximos que virão. Ou seja, neste breve relato já perdemos três dias; caso a proposta do prefeito vingue, perderemos então 6 dias, já que as datas citadas caem respectivamente numa quarta, quinta e sexta feira.
Estes atos, aparentemente sem grandes consequências, trazem junto consigo uma série de problemas para a população em geral e os mais pobres em particular, como: diminuição do números de dias de aula e do tempo de permanência em sala de aula, alteração para mais tarde das datas de consultas e procedimentos médicos em ambulatórios e hospitais que são marcadas com meses de antecedência e que não serão realizadas, diminuição do tempo de trabalho das intituições judiciárias com aumento ou manutenção da sua famosa letargia, maior dificuldade de acesso aos orgãos públicos devido ao menor tempo trabalhado, etc.
Se queremos ser grandes de verdade, temos de criar já, uma mentalidade onde trabalhar valha a pena por ser compensador financeiramente e socialmente, onde ter a cidade funcionando para seus cidadãos seja sempre uma prioridade, onde se possa realizar um evento sem termos de mudar nossa rotina, onde um dia de escola a menos não seja uma banalidade e onde os governantes se sintam envergonhados de cabular dias de trabalho útéis e necessários a todos.
Um abraço

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sobram barreiras, falta união.

Não sou especialista em segurança, ao contrário, sou expert em insegurança.
Mas andando pelo Rio e pelo Brasil noto algo que imagino ser uma prática sem lógica das nossas instituições do setor segurança pública.
Aqui aos delitos são categorizados, cabendo a cada orgão exclusivamente o dever e direito de repreender o infrator. 
Como exemplo, cito o carro estacionado sobre a calçada, que quando visto, só será abordado por um guarda municipal, pois a PM, se vê, nada faz, pois esta não é uma atribução dela, independente do incômodo e da pertubação que a atitude mal educada do infrator cause.  Se neste caso, o policial ao menos ligasse e informa-se a guarda municipal onde o problema ocorre já teríamos um avanço.
Creio que este simples exemplo pode ser apenas um de muitos; a própria lei seca aqui no Rio, reúne diversos orgãos, já que um só não pode atuar de forma ampla sobre os infratores flagados em vários delitos.
Não sou especialista neste assunto, repito, mas creio que se os nossos políticos e governantes tratassem a questão como um grande problema, que necessita de uma atuação conjunta e sinérgica dos orgãos responsáveis - sem feudos de atuação - talvez conseguissemos uma sociedade mais organizada, educada e com menos violência.
Um abraço. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tecendo a manhã

João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes 
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que amanhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã)que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão. 

domingo, 1 de abril de 2012

Poesia: Aquí

«La vida en la tierra sale bastante barata.

Por los sueños, por ejemplo, no se paga ni un céntimo.

Por las ilusiones, sólo cuando se pierden.

Por poseer un cuerpo se paga con el cuerpo».
W. SZYMBORSKA, Aquí

Informação Escondida

Neste sábado, dia 31, uma arquiteta foi morta e um carro foi atingido por tiros dados por ladrões que roubarem um outro carro no Recreio dos Bandeirantes - Rio de Janeiro.
A arquiteta e o carro foram atacados no Alto da Boa Vista, no trajeto entre a Barra da Tijuca e a Tijuca, localidade que já conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora e faz parte de um cinturão imaginário de segurança.
Ocorre que tal notícia, mostra mais uma vulnerabilidade deste sistema de segurança que apesar de baixar os diversos indíces de criminalidade, está longe de ser a panáceia divulgada.
E, mais curioso ainda, é que praticamente só o jornal O Dia, versão digital, vem dando cobertura ao caso, contrastanto com o mais absoluto silêncio dos demais, particularmente dos mais engajados com o atual governante do Estado.
Se minha percepção quanto ao silêncio estiver correta, significa que estamos ainda longe de termos uma cidade para todos, pois se não podemos ver as falhas existentes, e a imprensa livre é fundamental para isto, não poderemos questionar e cobrar as soluções necessárias.

sexta-feira, 30 de março de 2012

A Primeira Pedra

 Luís Fernando Verissímo

E os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher apanhada em adultério, e perguntaram a Jesus se ela não deveria ser apedrejada até a morte, como mandava a lei de Moisés. E disse Jesus: aquele entre vós que estiver sem pecado que atire a primeira pedra. E a vida da mulher foi poupada, pois nenhum dos seus acusadores era sem pecado. Assim está na Bíblia, evangelho de São João 8, 1 a 11.
Mas imagine que a Bíblia não tenha contado toda a história. Tudo o que realmente aconteceu naquela manhã, no Monte das Oliveiras. Na versão completa do episódio, um dos fariseus, depois de ouvir a frase de Jesus, pega uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, dizendo: "Eu estou sem pecado!"
— Pera lá — diz Jesus, segurando o seu braço. — Você é um adultero conhecido. Larga a pedra.
— Ah. Pensei que adultério só fosse pecado para as mulheres — diz o fariseu, largando a pedra.
Outro fariseu junta uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, gritando: "Nunca cometi adultério, sou puro como um cordeiro recém-nascido!"
— Falando em cordeiro — diz Jesus, segurando o seu braço também — e aquele rebanho que você foi encarregado de trazer para o templo, mas no caminho desviou dez por cento para o seu próprio rebanho?
— Nunca ficou provado nada! — protesta o fariseu.
— Mas eu sei — diz Jesus. — Larga a pedra.
Um terceiro fariseu pega uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a adultera, dizendo: "Não só não sou corrupto como sempre combati a corrupção. Fui eu que denunciei o escândalo da propina paga mensalmente a sacerdotes para apoiar a os senhores do templo."
— Mas foste tu o primeiro a receber propina — diz Jesus, segurando seu braço.
— No meu caso foi para melhor combater a corrupção!
— Larga a pedra.
Um quarto fariseu junta uma pedra do chão e prepara-se para atirá-la contra a mulher, dizendo: "Não tenho pecados, nem da carne, nem de cupidez ou ganância!"
— Ah, é? — diz Jesus, segurando o seu braço. — E aquela viúva que exploravas, tirando-lhe todo o dinheiro?
— Mas isto foi há muito tempo, e a mulher já morreu.
— Larga a pedra, vai.
E quando os fariseus se afastam, um discípulo pergunta a Jesus:
— Mestre, que lição podemos tirar deste episódio?
— Evitem a hipocrisia e o moralismo relativo — diz Jesus.
E, pensando um pouco mais adiante:
— E, se possível, a política partidária.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Congresso Nacional

Se o congresso não se mexer rápido, a frase abaixo, atribuída a Millôr Fernandes, fará todo sentido.

Repito um velho conselho, cada vez mais válido, sobretudo pro Congresso: Quando alguém gritar “- Pega ladrão”, finge que não é com você.
Millôr Fernandes.    

Um abraço.

Senador Demóstenes Torres

O STF - Supremo Tribunal Federal, autorizou à pouco a quebra do sigilo bancário do senador Demótenes Torres filiado ao partido DEM(cadentes). Tal autorização visa esclarecer o possível envolvimento do senador com um famoso contraventor.
Tenho dito repetidamente que vejo o Brasil caminhando devagar e erraticamente para uma situação melhor e apoio este discurso em decisões como a citada acima, que apesar de claras e necessárias eram impessáveis  a bem pouco tempo atrás.
E para que possamos andar, repito,  temos de contar com as intituições democráticas, como o judiciário, que ao trabalhar em sintonia com a moral de seu povo e seu arcabouço legal, favorece o nosso crescimento.
Um abraço

sábado, 24 de março de 2012

Senador Cachoeira

No Brasil, nada é tão previsível quanto a queda de um moralista como Demótenes

Leonardo Attuch

Que Vossa Excelência perdoe o chiste, mas o apelido é inevitável: Senador Cachoeira! Primeiro, ficamos escandalizados com a revelação de que o senhor, Catão da República, e também moralista número 1 do Congresso Nacional, é um amigo do peito de um dos nossos maiores contraventores. Mais escandalizados ainda com a sua desculpa de que não sabia que Carlinhos Cachoeira se dedicava a atividades ilegais. Depois, novo espanto com a notícia de que essa amizade fraterna era de copa e cozinha, com direito a fogões trazidos dos Estados Unidos. Quando nada mais podia nos surpreender, surgiram as 298 ligações telefônicas, mais de uma por dia, trocadas com o “professor” no período monitorado pela Polícia Federal. Em seguida, a descoberta de que as conversas eram feitas num rádio Nextel trazido dos Estados Unidos – “esta é a minha vida, este é o meu clube”. E agora, de repente, descobrimos que o senhor, senador Demóstenes Torres, também pediu dinheiro ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Quer saber se isso nos surpreende? Não. De jeito nenhum. Suas desculpas esfarrapadas é que preparam o terreno para recebermos com naturalidade cada vez maior os fatos novos da Operação Monte Carlo. Se amanhã nos disserem que Cachoeira despachava no seu gabinete, que ele teria financiado sua campanha ao Senado ou que os senhores, além de amigos, eram também sócios, tudo parecerá ser natural. Previsível até. Tão previsível quanto a queda de um moralista no Brasil, terra-mãe de Dercy Gonçalves. Aqui, não há um que resista. E todos os justiceiros que fazem desse método de ação política uma escada para o poder, mais cedo ou mais tarde acabam caindo.
Ocorre que alguns são perdoados. Outros, não. Ensina a sabedoria popular que o povo perdoa o pecador; o pregador, jamais. Então, se vale um conselho, senador Demóstenes, assuma-se como Senador Cachoeira. Defenda a legalização do jogo, apresente bons argumentos (que até existem), mas não tente posar novamente como o único homem probo do Senado, assinando pedidos de CPIs e emparedando adversários com uma moralidade postiça. O povo brasileiro detesta a hipocrisia.
Quanta lama ainda terá que jorrar das cataratas goianas para que o senhor reconheça seus erros e peça desculpas à Nação? Basta dizer a verdade e se assumir como um pecador normal, assim como todos os seus inimigos. É a sua única chance.

Crônica reproduzida do site brasil247.com, copiado de:

Um abraço.

domingo, 18 de março de 2012

Índice de Gestão Municipal

Saiu esta semana um estudo feito pela FIRJAN - Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, que mostra através de um índice como são aplicados os recursos arrecadados por centenas de municípios do país.
É muito interessante, pois aponta os melhores e os piores em matéria de aplicação do seu, meu, nosso dinheiro. Mostra também que com honestidade, boa gestão e pouca ou nenhuma bravata dá para progredir e melhorar a condiçào de vida em nosso País.
Para mais detalhes acesse o link abaixo e veja a situação do seu município.
http://www.estadao.com.br/especiais/mapa-da-gestao-fiscal,164145.htm .
Um abraço.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Notícia Nefasta

Ler sobre a união de César "Cidade da Música" Maia (DEMcadentes) e Antony "Histórias Infantis" Garotinho (PRofissionais), para disputa da prefeitura do Rio, disputa indireta, já que sairão como candidatos seus respctivos filhos, é uma destas leituras tristes e desestimulantes.
Os dois já se ofenderam publicamente de todas as formas e simbolizam o que de mais arcaico existe na política fluminense.
O complicado é que, fazer política, a boa política, é fundamental para que grupos sociais imensos como o nosso possam progredir, mas uma união deste tipo coloca em dúvida todo este discurso, principalmente entre os mais jovens.
A política e os cidadãos desta cidade, merecem muito mais do que oportunistas de ocasião.
Um abraço. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os Trágicos Segundo Shakespeare

Theófilo Silva

De todos os personagens trágicos de Shakespeare, que tiraram a própria vida, nenhum sofreu mais e tão sinceramente do que Othelo. Ele, atingido pelo ciúme, “o monstro de olhos verdes”, matou a esposa, a fiel e apaixonada Desdêmona – achava que ela o tinha traído – por causa das intrigas de um homem diabólico que contaminou sua mente com mentiras. Antes de matar-se, cheio de culpa e dor, olhando para o perverso Iago, disse: “pergunta a esse meio demônio por que envenenou meu sangue e minha alma”.
Não há glamour em tragédias da vida real. É por isso mesmo que pintores, poetas, músicos, tratam, em seu universo criativo, de pintar tragédias com cores de redenção para celebrar os que morrem. É uma forma de homenagear os que partem, consolar os que ficam, e de explicar a partida, muitas vezes rápida, dolorosa, sem despedidas ou cerimônias de adeus. Esse é o trabalho da arte.
Shakespeare chamava a morte de viagem misteriosa. No solilóquio Ser ou Não Ser, ele discute a “viagem” por intermédio do atormentado Hamlet, que questiona a própria existência, perguntando: “Qual é a ação mais nobre: sofrer os dardos e flechas de um destino ultrajante, ou opor-se a um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo? Morrer... Dormir!”. E aponta algumas das causas que podem fazer da vida uma desgraça: “Os ultrajes e desdéns do tempo, as angústias do amor desprezado, as demoras da lei, a afronta do opressor, a insolência oficial e os golpes que o homem de mérito recebe de pessoas indignas”. Quando: “Poderia encontrar quietude com um simples punhal”.
Mas Hamlet, diante de tantos problemas, vai em frente, e não se mata. Para alguns críticos Hamlet não pensava em morrer, ele simplesmente não aceitava a condição humana a que todos nós estamos sujeitos. O jovem príncipe acaba morrendo pelas mãos de um homem fraco, manipulado pelo tio dele.
Shakespeare via em muitos de nós um toque trágico. Uma série de coisas acumuladas em nossa mente e espírito, que, se acionadas por algum fato novo desestabilizam, e podem desencadear a tragédia. A desgraça dificilmente não conta com a colaboração de outrem para que siga seu curso. É possível que ela não seja inevitável. Podemos apontar os casos dos jovens Romeu e Julieta, em que a tragédia se consumou em função de um acaso, que contou com a colaboração do ódio entre os familiares dos dois jovens adolescentes. No caso de Cássius e Brutus, em Júlio César, e de Cleópatra e Marco Antônio, na peça homônima, não havia realmente nenhuma saída para eles. Ou tiravam a própria vida – e isso é história – ou seriam mortos cruelmente por seus inimigos.
O castigo mais justo e merecido em toda a obra de Shakespeare – e que levou Freud “às raias da loucura” –, foi o de Lady Macbeth. Se achando forte e inquebrantável, a perversa dama não hesitou muito em matar, em conluio com o marido, o bondoso rei Duncan. No entanto, cometido o ato, que tornou ela e seu marido reis da Escócia, passa a ter visões, torna-se sonâmbula e repete um gesto simulando lavar continuamente as mãos, com se quisesse limpar a sujeira de seu crime. Ela não resistiu e, já enlouquecida, jogou-se das torres do castelo.
Muitos de nós, às vezes, somos confrontados com forças muitos poderosas que não conseguimos controlar, o que Shakespeare chamava de golpes da fortuna, e se somos atingidos por eles um simples toque pode precipitar a tragédia. Tragédias que nos deixam inconsoláveis, como a que levou um de nossos amigos! Então, só resta nos despedirmos como Horácio se despediu de Hamlet: “Boa Noite, gentil príncipe! Que legiões de anjos te conduzam, cantando, ao eterno descanso!”.

Texto retirado do Blog Rádio do Moreno, publicado originalmente em:
Um abraço.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval e Bandidagem: não combina

O que se viu hoje na apuração de São Paulo, não foi a indignação de torcedores contra um resultado injusto, foi um ato de bandidagem e selvageria de um grupo, notório por eventos semelhantes ligados ao futebol, que agiram de forma bandida, através da depredação, incêndio e destruição intencional e sem propósito de patrimônio público e privado - para quem duvida basta ver as cenas gravadas pelas TVs, dentro do sambódromo paulistano  e na saída dos torcedores  ao longo da Marginal Tietê.
Este tipo de situação não pode ser atenuada, pois não só fere a imagem do carnaval paulista, mas a de todos nós que gostamos ou não de carnaval. 
Um abraço.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Suprema Ficha Limpa

A aprovação da chamada Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal, limpa um pouco o nosso catastrófico cenário eleitoral, particularmente neste ano de eleições municipais.
Com esta aprovação, milicianos, fraudadores, malandros, políticos pilantras e demais membros deste seleto grupo, seleto por serem minoria da população, não poderão se abrigar em um cargo público para aumentar seu poder ou se esconder da mão, lenta é verdade, da lei.
Repito o que disse em post anterior sobre o assunto: a Lei da Ficha Limpa tinha de valer mesmo que não existisse.
Um abraço.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Esperança Continua

Com a decisão do STF de não limitar os poderes do CNJ, clarea em mim, que vivo neste e este país já ha bastante tempo, a esperança de seguirmos em frente no nosso errático caminho, que talvez possa ser menos errático, a um futuro mais democrático e próspero.
Um abraço. 

domingo, 29 de janeiro de 2012

Juízes e Justiça: lá e cá

"Los resultados provisionales de un informe de la ONG Transparencia Internacional sobre España, hechos públicos esta semana, son preocupantes. El documento califica como uno de “los puntos débiles más importantes” del sistema judicial “la débil rendición de cuentas existente en la práctica”. “Los jueces actúan normalmente con ética, responsabilidad y rigor, pero la irresponsabilidad, corrupción e ineficiencia no son suficientemente sancionadas”, señala el informe, que habla también de la “fuerte politización” del órgano de gobierno de los jueces y de los nombramientos de los miembros de los tribunales de más alto rango: “Existe un cierto incentivo, para los jueces que quieran llegar a los puestos superiores del sistema, de subordinar su plena independencia a ciertos compromisos políticos”. Algo que, junto al fuerte corporativismo, está también relacionado con el modo en el que los jueces se imponen las sanciones entre sí."
"Resultados provisórios de um relatório da Transparência Internacional na Espanha, tornado público esta semana, são preocupantes. O documento descreve como um das "maiores fraquezas" do sistema judicial "a fraca prestação de contas que existe na prática." "Os juízes costumam agir com ética, responsabilidade e rigor, mas a irresponsabilidade, a corrupção e a ineficiência não são punidos o suficiente", diz o relatório, que fala da "politização forte" do órgão de juízes e a nomeação de membros da mais alta corte ranking: "Há algum incentivo para os juízes que querem alcançar as primeiras posições do sistema, para fazer a sua independência total para certos compromissos políticos". Algo que, juntamente com o corporativismo forte, também está relacionada à maneira que os juízes impor sanções entre si."

O texto acima foi retirado do site do jornal El Pais (http://politica.elpais.com/politica/2012/01/28/actualidad/1327789214_926686.html ) e nos faz pensar em uma tenebrosa coincidência por estarmos no meio do debate sobre a atuação da CNJ, que por intermédio da corregedora Eliana Calmon, parece buscar uma solução para o nosso semelhante problema.
Como em post anterior, sigo achando que tudo o que puder ser feito de forma rápida e legal para coibir e punir os desvios de juizes corruptos, arbitrarios e lenientes deve ser feito, pois o papel social destes senhores é fundamental para o equilíbrio das sociedades modernas.
Portanto, ter um judiciário efetivamente limpo e transparente é fundamental para a democracia e para o próprio judiciário. O que macula o judiciário é a defesa intransigente de quem não merece e não a identificação e expulsão dos transgressores. 
Estamos aguardando a decisão do STF nesta semana.
Um abraço.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Sem Mentira

A Educação é um processo de acúmulo de conhecimento, não de consumo de aulas. Mas, as salas de aula de nossas faculdades estão parecendo restaurantes, onde se consomem aulas. Pela baixa qualificação dos alunos, o aumento nas vagas do ensino superior não trará o resultado desejado. Elas fracassarão como construtoras de conhecimento de alto nível.
A solução não está na volta ao passado elitista, quando raríssimos jovens entravam em faculdades. A solução está no avanço, pelo qual todos que desejem um curso superior tenham tido um Ensino Médio com qualidade e possam cursá-lo com a base educacional que os tempos atuais exigem.
Nos últimos 20 anos, o número de vagas no ensino superior cresceu 503%, mas o número de jovens concluindo o ensino médio cresceu apenas 170%, e certamente sem melhora na qualidade. São 2,6 milhões de vagas no ensino superior para 1,8 milhão de concluintes do Ensino Médio. Ao invés de 10 a 15 candidatos por vaga, são 2,3 vagas por candidato.
Mesmo considerando a necessidade de vagas para antigos concluintes do ensino médio, esta diferença é uma distorção absurda e trará graves conseqüências na formação universitária no Brasil, ficando impossível ter boas universidades e faculdades, pois um bom ensino superior depende de uma boa educação de base.
Eliminou-se o elitismo da falta de vagas, mas manteve-se o elitismo econômico e as boas e grátis universidades para os alunos que puderam pagar por boa educação de base.
Corretamente, os últimos governos criaram vagas, mas pouco fizeram para que toda criança tenha acesso à escola de qualidade. O governo Lula criou o PROUNI, que paga a mensalidade dos carentes, que, por falta de bom ensino médio, não ingressam nas públicas. Abandonamos a busca da construção de uma elite intelectual, sem destruir o elitismo social. Assim não acumulamos conhecimento, consumimos aulas.
Além de mais vagas em faculdades é preciso promover uma formação de qualidade para todos na educação de base. Isso exige uma revolução, não apenas um II Plano Nacional de Educação, possivelmente tão irrelevante quanto o I PNE. Esta revolução só será possível se fizermos da Educação de Base uma questão nacional como já fizemos há décadas com o Ensino Superior.
Esta revolução se faria por meio de uma Carreira Nacional do Magistério e de um Programa Federal de Qualidade Escolar em Horário Integral. Por esta nova carreira, os professores e os servidores da educação seriam contratados por concurso público federal; receberiam um salário mensal de R$ 9 mil, depois de um ano de curso adicional, posterior ao concurso; a estabilidade não protegeria os que não se dedicarem com exclusividade e competência a seus alunos.
Esses professores seriam lotados nas mesmas cidades; todas as escolas dessas cidades seriam federalizadas, como hoje se faz com as 300 escolas federais; e todas as escolas teriam prédios bonitos, confortáveis e seriam equipadas com os mais modernos equipamentos da pedagogia, com os quais todos os professores estariam familiarizados.
Esta proposta está desenvolvida em detalhes no livro "A Revolução Republicana na Educação", que pode ser obtido gratuitamente pelo link http://bit.ly/ukvvGJ.
Um programa como esse pode ser iniciado de imediato, mas demora a ser implementado em todo o país, sobretudo por falta de recursos humanos em quantidade. A solução é executá-lo por cidades.
Pode-se imaginar que o novo quadro de professores incorporaria cem mil professores a cada ano, sendo lotados em 10 mil escolas, em 250 cidades de porte médio, atendendo cerca de três milhões de alunos. A revolução se faria de imediato nessas cidades, e em todo o Brasil levaria 20 anos.
Ao longo desse período, o novo sistema de escolas federais iria substituindo o sistema tradicional municipal ou estadual. Ao final de 20 anos o custo total estaria em 6,4% do PIB.
Esta revolução foi iniciada no final de 2003, em 28 pequenas cidades, e interrompida antes mesmo de ser implementada. A posse de um novo ministro pode ser o momento para iniciar a execução dessa proposta que em 2003 recebeu o nome de Escola Ideal. Com ela, contaremos todos com uma educação de base qualificada e teremos a possibilidade de um sistema de ensino superior de qualidade, no qual as vagas sejam disputadas sem discriminação social, em vez de oferecidas com discriminação social. Teríamos o bom elitismo, intelectual, com a mesma chance para todos, como no futebol. E sem mentira.
O artigo acima foi escrito por Cristovam Buarque que é professor da UnB e senador do PDT-DF , tendo sido originalmente publicado no blog do Noblat.

Um abraço.