terça-feira, 14 de junho de 2011

Poesia: Ferreira Gullar

Traduzir-se.

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir
uma parte na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

FERREIRA GULLAR

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