Por Elio Gaspari
Retirado de: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/05/02/cabral-quis-ser-chique-foi-brega-por-elio-gaspari-443001.asp
Vergonha, essa é a sensação que resulta dos vídeos das vilegiaturas
parisienses do governador Sérgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns
secretários e pelo empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta.
Uma cena pode ser vista com o olhar do casal que está numa mesa ao fundo do
salão do restaurante Louis XV, no Hotel de France, em Mônaco. (“Este é
o melhor Alain Ducasse do mundo”, diz Cabral, referindo-se ao chef.)

Até aí, tudo bem, é vulgar puxar celulares no Louis XV e chega a ser
brega filmar a cena, mas, afinal, é noite de festa. A certa altura, marcado o
dia do casamento, Cabral decide dirigir a cena:
“Então, dá um beijo na boca, vocês dois.”
Cavendish vai para seu momento Clark Gable e o governador diz à mulher do
empreiteiro:
“Abre essa boca aí.”
As cenas foram filmadas por dois celulares. Um deles era o do dono da
Delta.
Na mesma viagem, Cavendish, o empresário George Sadala, seu vizinho de
Avenida Vieira Souto e concessionário do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os
secretários de Saúde e de Governo do Rio (Sérgio Cortes e Wilson Carlos), estão
no restaurante do Hotel Ritz de Paris.
Até aí, tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas
expressões, estão embriagados. Fora do expediente, nada demais. Inexplicáveis,
nessa cena, são os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a
Dubai quem tiver uma explicação para o adereço.
O álbum fecha com a fotografia de quatro senhoras gargalhantes, no meio da
rua, mostrando as solas de seus stilettos (duas vermelhas). Exibem como troféus
os calçados de Christian Louboutin.
Nos pés de Victoria Beckham (38 anos) ou de Lady Gaga (26 anos), eles têm a
sua graça, mas tornaram-se adereços que, por manjados, tangenciam a vulgaridade.
Não é à toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do
cabaret Crazy Horse.
As cenas constrangem quem as vê pela breguice. Até hoje o ex-presidente José
Sarney é obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se
locomoveu numa de suas viagens a Nova York. (Não foi ele quem mandou alugar o
modelo.)
A doutora Dilma explicou que não foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No
caso das vilegiaturas de Cabral, a breguice não partiu dos organizadores da
viagem, mas da conduta dele, de seus secretários e do amigo empreiteiro.
Esse tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas
faz parte do primarismo dos novíssimos ricos do Brasil emergente.
Noutra ponta dessa classe está o senador Demóstenes Torres, comprando cinco
garrafas de vinho Cheval Blanc, safra de 1947: “Mete o pau aí. Para muitos é o
melhor vinho do mundo, de todos os tempos (...) Passa o cartão do nosso amigo
aí, depois a gente vê.”
O amigo do cartão era Carlinhos Cachoeira, que, por sua vez, também era amigo
da empreiteira Delta, de Cavendish.
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