terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Veniais e Mortais

Eis um bom artigo escrito por Luis Garcia e publicado no jornal O Globo de hoje.

Existe em alguns países a tradição das resoluções ou promessas de Ano Novo. Pode ser hábito encantador no caso de promessas de crianças e costume com graus variados de cinismo, quando elas partem de homens públicos.
É fácil entender o motivo da diferença. Os compromissos infantis são sinceros e, pelo menos, animadores para pais e avôs. Já políticos — e outros senhores que tomam conta do país em nome dos cidadãos — freqüentemente esquecem promessas e projetos por volta do Dia de Reis. No Brasil, esses compromissos de fim de ano não são comuns. Melhor, talvez, para nós todos: escapamos de frágeis esperanças.
Mesmo assim — ou por isso mesmo, não sei bem — sempre podemos fazer uma brincadeira sem nenhuma malícia e quase amistosa com a turma que toma conta do país para a gente. Consistiria em produzirmos um rol de promessas de Ano Novo para serem assumidas pelos nossos políticos e administradores.
Por exemplo, estas três:
1) No exercício de qualquer função pública escolherei auxiliares experientes e capacitados para desempenhá-la. Não será critério para nomeação grau de parentesco, principalmente no caso de familiares de minha digna esposa. Explica-se esse ponto pelo fato notório de que é sempre muito mais difícil demitir o irresponsável sobrinho de madame do que o inútil parente de meu próprio sangue.
2) Jamais transformarei em amigos íntimos e, principalmente, generosos quaisquer cidadãos que tenham interesses, mesmo que válidos, relacionados com minha função pública.
3) Apresentarei relação de bens pessoais de toda e qualquer natureza tanto ao ser nomeado como no momento em que deixar o cargo.
É possível que muitos — muitíssimos, talvez — dos senhores e senhoras a quem fossem exigidos esses compromissos reagissem com solene indignação, argumentando, por exemplo, que eles significariam, digamos assim, uma premissa de mau comportamento.
Não é nada disso: seria, simplesmente, uma manifestação, tão necessária quanto espontânea, das boas intenções esperadas de qualquer ocupante de função pública.
Alguns poderiam alegar que são cidadãos de ficha limpa: seu retrospecto na vida pública já seria aval suficiente.A resposta a esse argumento seriam exemplos recentes de estripulias de alguns ocupantes de altos cargos em Brasília. A propósito, é preciso também lembrar que nenhuma administração — tanto nos governos militares como no regime democrático — foi, até hoje, imune a desvios de conduta.

Incluindo pecados veniais e mortais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Saudações!!
Obrigado por seu comentário, ele é muito bem vindo. Desejo deixar claro que publicarei apenas os comentários que não possuam conteúdo discriminatório de qualquer tipo e que não façam uso de palavrões ou termos de igual categoria. Comentários sem nome e e-mail para contato não são bem vindos.
No mais, aproveite para conversar e trocar ideias à vontade.
Um abraço.
Wilson Pessanha