Eis um bom artigo escrito por Luis Garcia e publicado no jornal O Globo de hoje.
Existe em alguns países a tradição das resoluções ou promessas de Ano Novo.
Pode ser hábito encantador no caso de promessas de crianças e costume com graus
variados de cinismo, quando elas partem de homens públicos.
É fácil
entender o motivo da diferença. Os compromissos infantis são sinceros e, pelo
menos, animadores para pais e avôs. Já políticos — e outros senhores que tomam
conta do país em nome dos cidadãos — freqüentemente esquecem promessas e
projetos por volta do Dia de Reis. No Brasil, esses compromissos de fim de ano
não são comuns. Melhor, talvez, para nós todos: escapamos de frágeis
esperanças.
Mesmo assim — ou por isso mesmo, não sei bem — sempre podemos
fazer uma brincadeira sem nenhuma malícia e quase amistosa com a turma que toma
conta do país para a gente. Consistiria em produzirmos um rol de promessas de
Ano Novo para serem assumidas pelos nossos políticos e
administradores.
Por exemplo, estas três:
1) No exercício de
qualquer função pública escolherei auxiliares experientes e capacitados para
desempenhá-la. Não será critério para nomeação grau de parentesco,
principalmente no caso de familiares de minha digna esposa. Explica-se esse
ponto pelo fato notório de que é sempre muito mais difícil demitir o
irresponsável sobrinho de madame do que o inútil parente de meu próprio
sangue.
2) Jamais transformarei em amigos íntimos e, principalmente,
generosos quaisquer cidadãos que tenham interesses, mesmo que válidos,
relacionados com minha função pública.
3) Apresentarei relação de bens
pessoais de toda e qualquer natureza tanto ao ser nomeado como no momento em que
deixar o cargo.
É possível que muitos — muitíssimos, talvez — dos
senhores e senhoras a quem fossem exigidos esses compromissos reagissem com
solene indignação, argumentando, por exemplo, que eles significariam, digamos
assim, uma premissa de mau comportamento.
Não é nada disso: seria,
simplesmente, uma manifestação, tão necessária quanto espontânea, das boas
intenções esperadas de qualquer ocupante de função pública.
Alguns
poderiam alegar que são cidadãos de ficha limpa: seu retrospecto na vida pública
já seria aval suficiente.A resposta a esse argumento seriam exemplos recentes de
estripulias de alguns ocupantes de altos cargos em Brasília. A propósito, é
preciso também lembrar que nenhuma administração — tanto nos governos militares
como no regime democrático — foi, até hoje, imune a desvios de conduta.
Incluindo pecados veniais e mortais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Saudações!!
Obrigado por seu comentário, ele é muito bem vindo. Desejo deixar claro que publicarei apenas os comentários que não possuam conteúdo discriminatório de qualquer tipo e que não façam uso de palavrões ou termos de igual categoria. Comentários sem nome e e-mail para contato não são bem vindos.
No mais, aproveite para conversar e trocar ideias à vontade.
Um abraço.
Wilson Pessanha